Marcos Leandro de Assis Leite
RESUMO
O
objetivo deste artigo é apresentar um corpo de conhecimentos que vem sendo
construído no âmbito da motricidade humana. Particularmente entendendo a
Educação Física como educação motora, que contribui com o processo de
alfabetização dos escolares em uma proposta pedagógica interdisciplinar.
Palavras-chave:
educação física, psicomotricidade, corporeidade, alfabetização, leitura e
escrita.
ABSTRACT
The
objective of this article is to present a body of knowledge that has been
builtwithin the human motricity. Particularly understanding Physical Education
as motoreducation, which contributes to the process of school literacy in an
pedagogical proposal intedisciplinar
Key-Words:
physical education, psychomotricity, corporeity literacy, reading and writing.
INTRODUÇÃO
A corporeidade[1] vem se constituindo num
dos mais interessantes temas de reflexão na área de educação, em especial da
Educação Física[2]
(EF), talvez seja pelo fato de que o movimento é a primeira manifestação na vida do ser
humano, pois desde a vida intra-uterina realizamos movimentos com o nosso
corpo, no qual vão se estruturando e exercendo enormes influências no
comportamento. Lima (2008) afirma que as primeiras evidências de um
desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras. Dito de outro modo, a corporeidade é o corpo
em movimento, envolvendo o conhecimento do mesmo, por meio da Psicomotricidade[3]. Se o conhecimento do
próprio corpo fica prejudicado, aparecem as dificuldades de aprendizagem frente
à leitura e a escrita.
Nossos movimentos expressam o que sentimos nossos pensamentos
e atitudes que muitas vezes estão arquivados em nosso inconsciente. De acordo
com Rodrigues (2009), o corpo é uma
construção biocultural, ou seja, por meio das ações sobre o meio físico com
o meio social e da interação como ambiente social, processa-se o
desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano. Para Freire (2009), a aprendizagem formal está presente de corpo
inteiro, pois o ser que pensa é também o ser que age e que sente, o sujeito
realiza-se e se constrói, pela intenção, pelo desejo, pelos sentidos, pela
emoção, pelo movimento, pela expressão corporal e criativa.
Desse modo, o trabalho com o corpo e
com os preceitos da psicomotricidade permitem fortalecer e consolidar a
importância desta prática à adaptação das vivências corporais e estímulos
vindos do exterior. Rodrigues (2009) diz que o conhecimento e a aprendizagem
dependem da existência do mundo, o qual é inseparável do corpo, da linguagem e
da história social.
Nesse
sentido, utilizando atividades em sua maioria lúdicas almeja-se melhorar o
desenvolvimento das crianças, estimulando assim seu cognitivo e o processo de
aquisição da leitura e escrita. Diversos autores citam a importância do
trabalho motor para o aprendizado das crianças, dentre estes citamos Petry (1988)
que reafirma a importância do desenvolvimento dos conceitos psicomotores,
ressaltando que as dificuldades de aprendizagem em crianças de inteligência
média podem se manifestar quanto à caracterização de letras simétricas pela
inversão do “sentido direito-esquerda”, como, por exemplo, b, p, q ou por
inversão do “sentido em cima em baixo”, d, p, n, u, ou, ainda, por inversão das
letras ora, aro, oar.
O objetivo deste artigo é apresentar um corpo de
conhecimentos que vem sendo construído no âmbito da motricidade humana, visando
contribuir com o processo de leitura e escrita, no que tange à idade motora,
dos escolares, reconhecendo a EF como uma disciplina motora e não apenas
física, que permite a cooperação com outras disciplinas, em um trabalho
interdisciplinar maior e com objetivos pedagógicos voltados para a área da
alfabetização. Particularmente para as dificuldades de aprendizagem dos alunos
em aprender a escrever e a ler.
DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM
A aprendizagem é um processo
natural para criança, que aprende desde o dia em que nasce e em todos os dias
de sua vida, ao conviver em uma sociedade organizada e com ricos conhecimentos
culturais. Segundo Santos,
a aprendizagem e a construção do
conhecimento são processos naturais e espontâneos do ser humano que desde muito
cedo aprende a mamar, falar, andar, pensar, garantindo, assim, a sua
sobrevivência. (...) Sendo assim, a aprendizagem escolar (...) resulta de uma
complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a
memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e é justo
onde a criança deve sentir o prazer em aprender (SANTOS et al, 2009, p. 06).
No mundo tecnológico em que
vivemos hoje, as informações são repassadas em segundos pelo mundo da internet
e das mídias[4],
porém em se tratando de aprendizagem escolar, muitos alunos sentem grandes
dificuldades nas séries iniciais do Ensino Fundamental com relação à apreensão
da leitura e da escrita. Para Codeço (2010), dificuldade pode ser caracterizada
como sendo “obstáculos, barreiras ou
impedimentos, que, [quando] ligados à aprendizagem, dificultam ou impedem o
processo de aquisição de conhecimento” e Le Bouch (1987) aponta três
aspectos que cooperam nos problemas com leitura e escrita, são eles: atraso ou
defeito de linguagem, problemas psicomotores e déficit da função simbólica nos
casos de debilidades.
Sendo assim, Le Bouch (1987)
afirma que cumpre “a escola o papel de tentar
amenizar estas dificuldades por meio de métodos pedagógicos atualizados, que
objetivem ajudar a criança a desenvolver-se da melhor maneira possível, rumo a
sua verdadeira preparação para a vida”.
A aprendizagem da leitura e
escrita são processos importantes e complexos de fundamental importância para a
vida em sociedade, visto que é pré-requisito para conhecimentos futuros, para
as relações interpessoais e para a comunicação com o mundo que o circula.
Santos (2009) diz que
uma criança que não tenha solidificado
realmente sua alfabetização poderá tornar-se frustrada diante da educação
formal, terá deficitário todo seu processo evolutivo de aprendizagem,
apresentará baixo rendimento escolar e pouco a pouco sua auto-estima estará
minada, podendo manifestar ações reativas de comportamento anti-social, bem
como levá-la ao desinteresse e, muitas vezes, até a evasão escolar (p. 17-18).
Isso nos mostra o quanto à
leitura e a escrita são benéficas para o ser humano, e muitas vezes não
valorizamos ou somos pouco incentivados a esta prática tão saudável para a
vida. Codeço (2010) acrescenta que “para
aprender a ler e escrever, a criança precisa ter adquirido um nível suficiente
de desenvolvimento intelectual, afetivo e social” além, também, de condições
psicomotoras como “esquema corporal,
lateralidade, orientação espacial e temporal” que poderão ser ricamente
trabalhadas nas aulas de EF nas séries iniciais, claro, caso o professor tenha
consciência de seus benefícios.
A criança que não tem uma
boa noção de seu esquema corporal, não percebe com nitidez o que está ao seu
lado, do outro, acima, abaixo, na frente, atrás, ou seja, das noções que deverá
ter de si em relação ao espaço. Sendo assim, o desenvolvimento motor
inadequado, segundo Codeço (2010) coopera para que, “a criança não tenha facilidade para perceber a posição que as letras
ocupam nas palavras umas em relação às outras” cooperando para retardo no
aprendizado e compreensão do processo de leitura e conseqüentemente o da
escrita.
EDUCAÇÃO
FÍSCA NA ESCOLA
O brincar, o divertir, o rir
e o movimentar fazem parte da vida do ser humano desde seu nascimento até a
idade adulta. Estes momentos são capazes de gerar um bem maior para o homem que
é a socialização, aprendizado de regras e também condutas sociais. Quando os
indivíduos propõem-se a participar de alguma atividade corporal, este consegue
por meio do movimento e de seu corpo expressar seus sentimentos, sua cultura e
definir sua personalidade, tanto é verdade que alguns psicólogos utilizam de
jogos para fazer suas análises com crianças.
A EF, dada sua importância
para o desenvolvimento motor de crianças e adolescentes, é considerada pela
nova LDBEN[5] em seu Art. 26 como sendo
um componente curricular obrigatório da Educação Básica, período que compreende
a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Mas infelizmente o
que se percebe na prática é a desvalorização da disciplina enquanto prática de
ensino e expressão de um ser que “sente” que “pensa” e que “vive” em função do
movimento principalmente na Educação Infantil. Freire (2009, p.18) reforça esta
idéia dizendo que “tem muita escolinha
que não leva muito em consideração a importância do brinquedo e da atividade
física para a criança”.
O mesmo autor ainda critica
as escolas de Educação Infantil que tentam precocemente alfabetizar suas
crianças, o autor diz que uma criança não vai para a escola apenas para
alfabetizar-se, mas sim para ensiná-la a conviver com o atributo decisivo na
espécie humana, que é a “imaginação”. Para Freire,
o significado, nessa primeira fase da
vida, depende, mais que em qualquer outra, da ação corporal. Entre os sinais
gráficos de uma língua escrita e o mundo concreto, existe um mediador, às vezes
esquecido, que é a ação corporal (FREIRE, 2009, p.18).
Tenho observado e concordo
com Freire, que a EF deve atuar e ser valorizada assim como as outras
disciplinas da escola, e não como uma aula fora da realidade ou auxiliar das
outras disciplinas, as aulas de EF trabalharão para que “a Atividade Física venha garantir que,
de fato, as ações físicas e as noções lógico-matemáticas, que a criança usará
nas atividades escolares e fora da escola, possam se estruturar adequadamente.”
(FREIRE, 2009, p.21).
O ideal seria que as
diversas áreas do conhecimento se reconhecessem como participantes em níveis
iguais de cooperação “na identificação de
pontos comuns do conhecimento e na dependência que corpo e mente, ação e
compreensão possuem entre si” (FREIRE, 2009, p.163). Para seu
desenvolvimento, o ser humano depende totalmente de suas condutas motoras e nas
aulas, os envolvidos estão, a todo momento, trabalhando e recebendo benefícios
em seus campos cognitivo, social e afetivo.
A atividade lúdica que a EF
proporciona, aguça a curiosidade e desenvolve o interesse na criança por meio
do prazer de brincar, tão necessários ao seu desenvolvimento cognitivo e
psicomotor. Nela, a criança vivencia situações que propiciam experiências
motoras, e estas possibilitam sua estruturação no espaço e permitem a percepção
do seu corpo.
Para o grupo de professores
que escreveram o livro Metodologia do Ensino da EF, trata a EF como uma área do
conhecimento que discute a cultura corporal[6] e acreditam que a
disciplina contribui para a “afirmação dos interesses de classe populares, na
medida em que desenvolve “reflexão pedagógica” sobre valores como solidariedade,
distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de
expressão dos movimentos” (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 41).
Para os Parâmetros
Curriculares Nacionais, é tarefa da EF escolar, portanto, “garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal,
contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer
instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente”.
Observamos que a EF é uma
disciplina, do currículo escolar que trabalha a partir, com e para o movimento.
Seu principal objetivo é contribuir para o desenvolvimento psicomotor da
criança, que é de suma importância para o sucesso escolar. Além disso, ela
proporciona do desenvolvimento do esquema corporal, lateralidade, organização
espacial e temporal, coordenação motora, percepção autonomia, conceito de
regras, cooperação, atenção, raciocínio e equilíbrio.
Para que a EF nas escolas passe a ser significativa
e ganhe posicionamento quanto sua cooperação com o processo de aprendizagem
interdisciplinar, faz-se necessário que os professores e profissionais
envolvidos mudem suas posturas diante das aulas, trabalhando conteúdos e
conhecimentos que venham ser significativos para os alunos que dela participam,
procurando retomar o elo que foi perdido e que fez com que a disciplina
passasse a ser dissociada do psíquico e afastada das outras disciplinas da
escola, descaracterizando assim sua prática.
PSICOMOTRICIDADE,
LEITURA E ESCRITA
Historicamente, a EF tem priorizado e enfatizado a
dimensão biofisiológica do ser humano. Com o passar dos anos e o avanço nos
estudos relacionados à Educação, surgiu a psicomotricidade, que de forma
atuante passa a apresentar uma visão mais abrangente de homem deixando de considerá-lo
meramente como biológico e passando a concebê-lo segundo uma visão mais
abrangente na qual se considera o processo social, histórico e cultural desse
homem em formação. Molinari e Sens
(2008) confirmam dizendo que,
.
a
psicomotricidade, nos seus primórdios, compreendia o corpo nos seus aspectos neurofisiológicos,
anatômicos e locomotores, coordenando-se e sincronizando-se no espaço e no
tempo, para emitir e receber significados. Hoje, a psicomotricidade é o
relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o
ser corpo, o ser mente o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade (p.86).
Desta forma a psicomotricidade está diretamente ligada à
afetividade e à personalidade dos indivíduos, visto que, como dizem as autoras,
“o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente (...) uma pessoa com
problemas motores passa a apresentar também problemas de expressão e na
aprendizagem”. Para Saúde (2004), psicomotricidade
é a ciência que tem por objetivo o estudo do
homem através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e
externo. Procura educar o movimento, ao mesmo tempo em que desenvolve as
funções da inteligência (p. 11).
Procurando unir idéias de Wallon e Piaget, Ajuriaguerra
(1959) tentou criar uma explicação teórica ou conceitual e terapêutica para o
termo psicomotricidade, na qual se refere ao termo como sendo
técnica
que, pelo recurso ao corpo e ao movimento, se dirige ao ser humano na sua totalidade.
Ela não visa à readaptação funcional ou a supervalorização do músculo, mas sim,
a fluidez do corpo no envolvimento. O seu fim é permitir uma melhor integração
e um melhor investimento da corporalidade, uma maior capacidade de se situar no
espaço, no tempo e no mundo dos objetos é facilitar, é promover, uma melhor
harmonização na relação com o outro (Ajuriaguerra apud Codeço, 2007, p.5).
Segundo Barreto citado por Molinari e Sens (2008), “O
desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da
aprendizagem (p.89. Por estarem mais ligados ao aprendizado da leitura e
escrita iremos centrar nossa atenção discorrendo sobre a lateralidade, estruturação
espacial e temporal e do esquema corporal, buscando argumentos que venham
servir como base de valorização do desenvolvimento de práticas com as crianças
que trabalhem estas habilidades.
A lateralidade, segundo Farias é
é
a capacidade de controlar os dois lados do corpo juntos ou separadamente, em si
e em relação ao objeto. Capacidade de estabelecer relações utilizando o
conceito de direita e esquerda, como mostrar o lado direito e esquerdo do
colega que está à frente (p.03).
A
lateralidade ocorre em três níveis: olho, mão e pé. Cada parte do corpo tem sua
própria dominância de acordo com a atividade a ser desenvolvida. A lateralidade
só vai ser definida à medida que a criança atravessar todas as fases do seu
desenvolvimento por volta dos seis aos oito anos, anterior a esta definição, a
criança precisa vivenciar experiências com ambos os lados do corpo. Barbosa diz
que,
a
partir dos sete anos a criança será capaz de perceber que direita e esquerda
não dependem somente uma da outra, mas também da posição de outras pessoas em
relação a ela e de seus deslocamentos, acontecendo então, uma descentralização
de seus pontos de referência (2005, p. 26).
Também a partir desta idade, as crianças que não
estiverem com a lateralidade definida apresentarão dificuldade na aprendizagem
escolar, pois pode implicar em confusões de orientação espacial, e ela poderá
apresentar dificuldades em discriminar letras que se diferem quanto a sua posição
espacial. A criança facilmente confunde “b” com “d”, “q” com “p”, “6” com “9”,
o “u” com “n” entre outros. A lateralidade é um pré requisito para que se possa
assimilar os conceitos de desenvolvimento espacial.
A estruturação espacial pode ser conceituada tendo como
base a noção de percepção que a criança tem do seu próprio corpo no espaço,
seguidamente da posição dos objetos em relação a si própria, e finalmente, da
relação dos objetos entre si, ou seja, da relação desta criança com o ambiente
que a cerca (LE BOUCH, 1987, p. 224-225).
Por meio dos jogos e brincadeiras desenvolvidos nas aulas
de EF, as crianças vão se estruturando espacialmente de acordo com sua ocupação
no espaço e em relação aos seus pares nas brincadeiras (espalhados, em
fileiras, duplas, círculos e colunas).
Para que a criança tenha um bom desenvolvimento espacial,
faz se necessário que esta tenha uma boa imagem corporal, visto que seu corpo
servirá de referencial para todas as atividades e posicionamentos dos objetos
junto às brincadeiras. Para Ferreira apud Barbosa (2005), dificuldades nesta
área, trarão como conseqüência, problemas como: dificuldade de reconhecimento
direito-esquerda, incapacidade de orientar-se no meio ambiente, dificuldades na
aquisição da direção gráfica, escrita das letras ou números em espelho e a não
percepção na ordem das palavras (p.22).
Entende-se por estruturação temporal, a capacidade de
situar-se em função da sucessão dos acontecimentos (antes, durante e depois),
da duração dos intervalos, da renovação cíclica de certos períodos (dias da
semana, meses, duração de aulas e período escolar) e do caráter irreversível do
tempo.
Barbosa valoriza o desenvolvimento da estruturação
temporal declarando sua importância para criança dizendo que,
por
intermédio do ritmo é que ela terá uma boa orientação no domínio do papel, na
escolarização, construindo palavras de forma ordenada e sucessiva na utilização
de letras, umas atrás das outras, obedecendo a certo ritmo e dentro de um
determinado tempo. Na comunicação oral, também estruturará o som das palavras,
diferenciando-os, aprendendo a ler com mais facilidade (2005, p. 23).
A criança com alterações nesta área, não consegue
organizar o tempo de execução de suas atividades, deixando de concluí-las por
perder tempo demais em uma ou outra atividade, não consegue dar expressão às
palavras no momento da leitura, não reconhecendo assim sua continuidade,
velocidade e pausas, ou seja, a dinâmica da leitura.
As estruturações do tempo e do espaço acontecem de
maneira interligada e integrada à formação do esquema corporal, ambos formam a
base do processo de aprendizado da leitura e da escrita.
O esquema corporal é o conhecimento que a criança tem de
si, do seu jeito de ser, do próprio corpo em relação a si mesmo, aos outros, ao
espaço e aos objetos que o circundam, seja em movimento ou estático. Este
conhecimento abre as possibilidades de trabalhos com vivências corporais e de
aprendizado.
“A construção do esquema corporal, se dá a partir da
maturação neurológica do sistema sensório motor e da relação com o corpo do
outro” (BARBOSA, 2005, p 18).
Sem uma boa noção do esquema corporal, a criança
dificilmente consegue desenvolver uma estruturação espaço-temporal, se ela não
reconhece a si mesma, fica mais complicado reconhecer o espaço que a rodeia. A
mesma autora ainda alerta que
Crianças
com perturbações no esquema corporal podem apresentar dificuldades no aspecto
visomotor e apresentar dificuldades na leitura e escrita. Letras e frases ficam
confusas e geralmente a criança troca p por q, b por d (BARBOSA, 2005, p. 18).
.
Como já foi dito, o processo de
aprendizagem é um processo complexo que envolve sistemas e habilidades
diversas, inclusive as motoras. Na maioria das crianças que passam por
dificuldades de aprendizagem, a causa do problema não está localizado no
período escolar em que se encontram, mas
no nível de suas bases, ou seja, nas estruturas de desenvolvimento.
Assim sendo, é imprescindível que a criança, durante o período pré-escolar,
antes de iniciar a sistematização do processo de alfabetização, adquira
determinados conceitos que irão permitir e facilitar a aprendizagem da leitura
e da escrita. Esses conceitos ou habilidades básicas são condições mínimas
necessárias para uma boa aprendizagem, e constituem a estrutura da educação
psicomotora.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este artigo surgiu da curiosidade e da não
aceitação do tratamento recebido pelas atividades ligadas ao plano motor e a EF
no ambiente escolar. Surgiu da crença de que a EF não é apenas mais uma
disciplina na escola, mas sim da escola, com funções, objetivos e colaboradora
no processo de alfabetização.
Desse modo, o artigo apresentou um corpo de
conhecimentos que constrói a motricidade humana, ou seja, que entende a EF como
uma prática social pedagógica de educação motora e contribui com o processo de
alfabetização dos alunos de forma interdisciplinar.
O trabalho de pesquisa e as leituras só nos deram
mais certeza e felicidade em saber que a corporeidade e aprendizagem andam lado
a lado. Em cada estudo podemos angariar mais conhecimentos que nos demonstram
que aprendizagem e os elementos psicomotores são interdependentes e caminham
juntos. Quando a criança conhece seu próprio corpo e suas possibilidades,
dificilmente apresentará dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita. De
forma geral observamos e encontramos subsídios suficientes para nossa própria
prática e a dos possíveis leitores deste artigo comprovando que uma boa
motricidade é requisito para uma boa alfabetização.
Nesse sentido, o estudo mostrou que a
Psicomotricidade é uma forma simples de se resgatar o lúdico, o prazer nas
brincadeiras amparado pelos professores e colegas, é também um momento de
aprendizagens sociais, atitudinais e sentimentais. É um momento que resgata o
sorriso das crianças nas brincadeiras tradicionais ao ar livre que estão tão
esquecidas pelo fato de hoje boa parte das crianças viverem em apartamentos
fechados e apertados fora da realidade corporal normal para sua idade. Fez com
que reforçasse em nós a compreensão de que todos somos seres puramente
corporais, e o se movimentar é o primeiro pré-requisito para se ter VIDA.
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[1] Corporeidade é a maneira
pela qual o cérebro reconhece
e utiliza o corpo como
instrumento relacional com o mundo. A corporeidade guarda três dimensões que
mantêm uma relação indissociável e complexa: Fisiológicos (físico),
psicológicos (emocional afetiva) e espirituais (mental-espiritual sendo o
universo físico, o universo da vida e o universo antropossocial), em outras
palavras, uma relação com o corpo, o espaço e o tempo (WIKIPEDIA, 2011).
[2] A Educação Física é uma disciplina
que trata, pedagogicamente, na escola do conhecimento de uma área denominada de
cultura corporal. Ela será configurada com temas ou formas de atividades,
particularmente corporais como: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que
constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa apreender a
expressão corporal como linguagem. (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 62).
[3] É a ciência que tem como objeto de estudo
o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e
externo. A educação psicomotora deve ser considerada como
uma educação básica para a escola primaria. Ela condiciona todas as
aprendizagens pré-escolares e escolares; estas não podem ser conduzidas a bom
termo se a criança não tiver conseguido tomar consciência de seu corpo, lateralizar-se,
situar-se no espaço, dominar o tempo; se não tiver adquirido habilidade
suficiente e coordenação de seus gestos e movimentos. (LE BOUCH, 1987, p. 11).
[4]
Formas de comunicação em massa com ultra-velocidade de comunicação como
a televisão, rádio, jornais revistas, cinema (MOREIRA, 2006).
[5] Sigla que corresponde as Leis de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional
[6]
Abordam os conteúdos da Educação Física como expressão de produções culturais,
como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos
(PCN-MEC, 2001, p.25).
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